Que me perdoem os carros feios, mas beleza é fundamental

Por Daniel Médici

Estamos em plena semana de apresentação dos carros da F-1 para a temporada 2017, que, como já foi amplamente noticiado, tem um apelo adicional em relação a outros anos: além da revelação de novos esquemas de pintura, é o primeiro contato do público com o resultado concreto do novo regulamento técnico.

Os monopostos terão carenagem e pneus mais largos, aerofólios maiores e mais baixos e, como consequência, um aumento geral de “downforce” (capacidade de gerar força descendente).

O objetivo das mudanças, segundo os organizadores, aumentar o desempenho dos carros da categoria —levando-os, possivelmente, a superar os patamares de meados dos anos 2000, o auge da velocidade da F-1. Mas as alterações produziram um bem-vindo efeito colateral, que foi tornar os bólidos muito mais bonitos.

Se você acha que falar de estética é inútil quando se discute corridas de carro, permita-me provar o contrário.

O automobilismo nasceu no fim do século 19 e floresceu no século 20, junto com o cinema (e, depois, a TV). Existe uma íntima relação entre os dois: além de contemporâneos, ambos são o resultado do fascínio de toda uma época pelo movimento e pela imagem.

Pode notar, não existe esporte nenhum com maior vocação imagética do que o automobilismo. Existe até uma brincadeira comum na internet em que leitores tentam adivinhar a partir de uma única foto sem legenda o piloto, a equipe, a categoria, o local e o ano em que a mesma foi tirada. Isso porque cada corrida produz uma “pegada” única de cores e formas e pistas visuais. Inclusive, os pilotos correm com os rostos cobertos por capacetes, que se tornam marcas de identidade. Fóruns de F-1 on-line estão lotados de discussões sobre quais as pinturas mais bonitas de cada equipe.

A estética cria até tabus difíceis de quebrar, como a resistência da  F-1 em adotar cockpits cobertos, por exemplo. Quando novas regras de segurança levaram os projetistas a criarem “degraus” nos bicos dos carros, em 2012, a comunidade esportiva chiou demais. Como se pode ver, a estética da porção dianteira dos monopostos ainda não é um tema completamente resolvido.

Tudo isso para dizer que, quando alguém liga a TV para assistir a uma corrida, não está apenas interessado no lado esportivo, mas também no espetáculo imagético. Quando, em 2009, a F-1 implementou novas restrições à aerodinâmica dos carros, esse aspecto foi completamente ignorado e é razoável suspeitar que tenha sido um (pequeno?) entre diversos fatores que fizeram os índices de audiência caírem. Agora, espera-se que esse problema seja página virada.

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