Malásia se prepara para seu último GP; saiba por que outras etapas asiáticas também saíram da F-1

Por Daniel Médici

No próximo domingo (1º), a F-1 visita pela última vez o autódromo de Sepang, já que o governo malaio desistiu de renovar o contrato com a categoria. É uma despedida bastante simbólica, já que foi a etapa que abriu, efetivamente, as portas para a enxurrada de GPs asiáticos que dominou o calendário recentemente.

O autódromo, ao lado do aeroporto internacional que serve Kuala Lumpur, era o mais moderno do mundo quando foi inaugurado, em 1999, e a corrida colocou a Malásia no mapa. Posteriormente, a tentativa de mudar o horário da largada, fazendo-a coincidir com as tempestades, e o fato de a F-1 tratar o espectador que vai ao autódromo como lixo contribuíram para o esvaziamento progressivo das arquibancadas —parte delas colocadas bastante longe da pista, diga-se, pelo arquiteto Hermann Tilke. Sintomático que a MotoGP tenha contrato renovado para correr em Sepang.

Contribuiu para a saída também, segundo a imprensa internacional, o êxito do GP de Cingapura, situação que aflige os egos do país vizinho.

Quando era ainda um sucesso, o exemplo malaio foi vendido como modelo para outras provas, especialmente na Ásia. Muitas deram certo, como a mencionada Cingapura, mas algumas outras se provaram um fracasso —não sem antes terem enchido os bolsos de Bernie Ecclestone.

Confira algumas dessas histórias:

Vista aérea de Istanbul Park (21.ago.2005/AFP)

TURQUIA

O autódromo de Istanbul Park foi considerado uma joia de Hermann Tilke, com destaque para a interminável curva 8, além de subidas, descidas e duas grandes retas. Um dos prováveis motivos que levaram o governo do país a pagar as taxas exigidas a Ecclestone foi dar visibilidade à sua visão política internacional —por isso, em 2006, Felipe Massa recebeu o troféu de sua primeira vitória das mãos do “presidente da República Turca do Chipre do Norte”. A Turquia é o único país que reconhece esta autoridade, fruto da cisão da ilha por conta de uma guerra civil. A FIA, que não tem a mínima simpatia por quem usa seus pódios como palanque, repreendeu a organização. A partir daí, o investimento secou progressivamente, as arquibancadas se esvaziaram e o GP teve sua última edição realizada em 2011.

Vettel passa pela reta de Yeongam em treino livre para o GP da Coreia de 2012 (Jung Yeon-Je/AFP)

COREIA DO SUL

O país parece ter caído no conto de que a F-1 traria visibilidade e investimentos em um passe de mágica. Por isso, foi escolhida Yeongam, uma região remota e com poucas conexões de transporte, para se instalar um nababesco (como de costume) autódromo, o qual serviria de base para um complexo imobiliário e hoteleiro que nunca chegou a ser erguido por inteiro. Foram quatro edições do GP da Coreia, de 2010 a 2013, até que os promotores desistissem de vez. Atualmente, as experiências mais bem-sucedidas na categoria são de eventos montados em centros urbanos, até mesmo em pistas de rua, como em Cingapura e no Azerbaijão.

Nico Rosberg lidera o pelotão na prova indiana, em 2013 (Prakash Singh/AFP)

ÍNDIA

Mais um autódromo caríssimo comissionado ao escritório de Hermann Tilke condenado a ser subutilizado. Dessa vez, próximo a Nova Déli. Apesar da assombrosa passagem dos pilotos indianos Narain Karthikeyan e Karun Chandhok (contém ironia) e de uma equipe que não faz feio (sem ironia) no Mundial —mas cujo dono está sendo processado no país—, o automobilismo nunca foi uma paixão nacional por lá. Além disso, o paddock se irritou consideravelmente com os entraves burocráticos e a sanha tributária das autoridades locais. Atraída pelo canto da sereia da audiência do segundo país mais populoso do mundo, e um de mercados emergentes em crescimento, a F-1 se desencantou com a etapa depois de apenas três GPs, de 2011 a 2013.

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