Após NFL, Trump coloca Nascar no centro da polêmica sobre hino americano

Por Daniel Médici

Tradicional reduto de espectadores brancos do sul e do meio-oeste americano, a Nascar, competição de stock car dos EUA, acordou nesta segunda-feira (25) no centro das discussões políticas por causa (“surprise, surprise”) de um tuíte de Donald Trump.

“Muito orgulhoso da Nascar e seus apoiadores e fãs. Eles não vão se calar diante do desrespeito com o nosso país e a nossa bandeira —eles disseram isso em alto e bom som!”, diz a mensagem do presidente no microblog, seu meio de comunicação preferido.

A polêmica começou com a NFL, a liga —mais rica e mais famosa— de futebol americano, quando jogadores negros se ajoelharam durante a execução do hino, em protesto contra o racismo. Em especial, ao tratamento dispensado a negros por policiais, algo presente há anos no debate racial americano e que chegou a motivar ondas de protestos, a mais recente das quais em 2015.

O gesto foi alçado à condição de factoide por Trump, um mestre do diversionismo (sua gestão enfrenta uma série de problemas no mundo real), que pediu, via Twitter, aos donos dos times da liga que demitissem os jogadores que protestassem, por suposto “desrespeito” à bandeira nacional.

A NFL, por sua vez, parece não ter se intimidado, e embora alguns cartolas tenham apoiado a fala do presidente, boa parte de seus personagens, inclusive Tom Brady (eleitor confesso de Trump) defenderam o direito dos colegas de se ajoelharem. Na rodada de domingo, o gesto foi repetido por mais jogadores, em diferentes partidas.

Foi assim que a polêmica chegou à Nascar, categoria muito mais ligada ao presidente, à qual ele recorreu para não parecer derrotado. No domingo, a prova no oval de New Hampshire foi marcada, extrapista, pela manifestação dos donos de equipe a favor de Trump. Ao contrário da NFL, e como no automobilismo em geral, a presença de esportistas negros é rarefeita.

A execução do hino, no autódromo, ocorreu de acordo com o protocolo, sem protestos. À veículos de comunicação, grandes personagens do esporte fizeram eco a Trump. Richard Petty, ídolo da Nascar como ex-piloto e atual chefe de equipe, foi uma das vozes mais enfáticas: “Qualquer um que não ficar de pé [durante a execução do hino] deve ser posto para fora do país. Ponto”, disse, ao “USA Today”. Richard Childress, outro dono de equipe, também fez a linha “ame-o ou deixe-o”.

A única voz dissonante do grid veio de Dale Jr., filho do também idolatrado Dale Earnhardt e talvez o piloto mais popular do certame, embora apareça apenas esporadicamente entre os vencedores.

Dale Jr. respondeu a Trump também pelo Twitter. “Todos os americanos têm o direito de protestar pacificamente”, escreveu. Sem medo de bater de frente, completou com uma citação do democrata John Kennedy: “Aqueles que fazem a revolução pacífica impossível farão a revolução violenta inevitável”.

Parte dos comentaristas americanos apontaram para o vazio da polêmica: longe de ser um desrespeito aos EUA, tanto NFL quanto Nascar, até muito recentemente, não davam muita bola para onde o esportista estava na hora de executar o hino.

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