Argentina ensaia com discrição retorno ao calendário da F-1

Por Daniel Médici

Embora imersa em suas próprias crises, a Argentina parece ter ganho um certo protagonismo internacional enquanto o Brasil chafurda na instabilidade política e patina na economia. Prova disso é que dois chefes de governo, em excursões recentes pela América Latina, a alemã Angela Merkel e o israelense Binyamin Netanyahu, além do vice-presidente americano, Mike Pence, decidiram passar longe de Brasília, mas não deixaram de ser recebidos por Mauricio Macri.

No automobilismo, Buenos Aires também parece estar de olho, ainda que de forma discreta, em se aproveitar do vácuo brasileiro.

Sim, pois, além da crise e da incerteza quanto ao futuro de Interlagos —cuja reforma do paddock, prometida para 2014, está parada desde a troca de comando na prefeitura paulistana—, um ceticismo ronda a F-1 quanto à permanência do GP Brasil no calendário após a aposentadoria de Felipe Massa. O piloto, que só correu em 2017 por causa do abandono repentino de Nico Rosberg, pode até disputar uma ou mais temporadas, mas dificilmente terá um sucessor para representar o país quando decidir se ausentar.

Não seria do interesse da Liberty Media, nova controladora da F-1, perder a única etapa que tem na América do Sul, mas o conglomerado não dispõe da mesma afinidade do antigo monocrata, Bernie Ecclestone, pelo Brasil.

Mais do que isso: como aponta o jornalista inglês Joe Saward, a estratégia da Liberty é apostar em cidades com vocação turística. Como Buenos Aires, por exemplo.

E foi justamente a capital argentina que Charlie Whiting, o diretor-técnico da categoria, visitou durante as férias de verão europeias. Segundo a imprensa esportiva local, ele inspecionou o autódromo Oscar y Juan Gálvez e chegou a receber até um esboço de traçado para avaliar a viabilidade de uma prova de F-1.

O desenho, elaborado pela mesma empresa responsável pela viabilidade técnica do circuito de rua de Valência, tem o mérito de incluir a volta mais longa do circuito portenho, que passa por trás do lago, onde os carros da categoria aceleravam até 1981. Entre 1995 e 1998, a F-1 retornou ao autódromo, mas numa versão de Hungaroring platina, sinuosa e travada, ainda sob o trauma da morte de Senna e cobranças por mais segurança.

Seria uma ótima notícia ter uma GP da Argentina no horizonte —a terra de Fangio, apesar de décadas sem um ídolo internacional, continua apaixonada pelo esporte—, se o mesmo não implicasse num quase certo fim do GP Brasil. É quase impossível imaginar ambos ocorrendo na mesma temporada, porém. Vide a insegurança financeira que a prova mexicana levou ao GP dos EUA, disputado em Austin.

Curta a página do Grid no Facebook