A gota d’água, com o perdão do trocadilho infame, havia sido o GP Brasil de 2016. Mesmo com pneus para pista molhada, a direção de prova optou pela largada em movimento, menos arriscada, por causa da chuva moderada que caía sobre Interlagos. Chuva infinitamente mais leve, inclusive, que as testemunhadas no mesmo circuito em 2003 ou 2008, por exemplo.
Ainda assim, foram voltas e voltas sob o Safety Car até que aparecesse a bandeira verde para a corrida começar de fato. A culpa, embora ninguém no paddock goste ou possa admitir, por contrato, era dos pneus da Pirelli.
Não foi um fato isolado. O mesmo aconteceu em Silverstone, naquele ano, e provocou um justificado protesto de fãs. Em São Paulo, engenheiros de equipes admitiram que a fabricante italiana, fornecedora única dos compostos, simplesmente não produzia pneus confiáveis o suficiente para chuva, mas que o problema deveria ser resolvido em 2017 —a aderência viria com as novas regras, que permitiriam carros mais largos, aumentando o downforce do conjunto (ou seja, a força descendente gerada em movimento).
Os treinos de sábado em Monza mostraram que a esperada melhora, no final, não veio. Batidas, reclamações e adiamentos sucessivos da liberação da pista marcaram o dia que sacramentou Lewis Hamilton como novo recordista de pole positions. Justamente na Itália, país de origem da Pirelli.
Kimi Raikkonen, um sincericida notório nas poucas vezes em que costuma abrir a boca, foi um dos poucos que resolveu dar nome aos bois ao final da sessão. “O maior problema foi ter dificuldades com a aderência e quando começamos a aquaplanar, e, pra ser sincero, temos que receber melhores pneus pra pista molhada. Porque os torcedores estão lá na chuva e não tinha tanta água assim, mas a gente continua aquaplanando”, disse, em defesa dos tifosi que lotaram o autódromo. “Então nós precisamos de pneus capazes de dar conta da água em primeiro lugar.”
Nessas horas, muita gente defende a liberação de mais de um fornecedor de pneus na categoria, forçando mais investimento em pesquisa e desenvolvimento por parte das marcas. A solução, no entanto, é absolutamente inviável, pois elevaria os custos a patamares absurdos, em uma modalidade que já sofre com gastos estratosféricos.
Uma alternativa seria abrir mais testes ao ano em pista molhada, algo já pleiteado pela fabricante italiana, que havia previsto dificuldades em situação de chuva já no início de 2017. Na época, Paul Hembrey, da Pirelli, já alertava que os pneus mais largos poderiam anular a vantagem, nesses casos, da maior pressão aerodinâmica permitida pelas novas regras.
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