Há 60 anos, Fangio fazia melhor corrida da carreira (e, talvez, da história) em Nürburgring

Por Daniel Médici
Juan Manuel Fangio, nos anos 50 (Folhapress)

Juan Manuel Fangio já tinha 47 anos e quatro títulos mundiais em 4 de agosto de 1957, quando alinhou na pole position para o GP da Alemanha. Não precisava mais provar nada a ninguém. Ainda assim, saiu de Nürburgring com seu quinto título de forma antecipada —e com o lugar garantido entre os melhores pilotos de todos os tempos.

Para isso, o argentino teve de correr mais riscos do que jamais havia se permitido ao longo de sua carreira (a morte de um copiloto na Carrera Panamericana, antes de se aventurar na Europa, aguçou para sempre seus instintos de autopreservação). Num circuito de 22,8 km de extensão, entre montanhas, curvas cegas e precipícios, temido por todos os pilotos, Fangio saiu do carro, segundo o jornalista Mark Hughes, dizendo que nunca havia pilotado de maneira igual e não repetiria mais o feito.

Para vencer as Ferrari de Peter Collins e Mike Hawthorn, a equipe Maserati, de Fangio, havia decidido largar com meio tanque e fazer um pit stop na metade da prova —os ingleses, usando pneus Englebert, mais duros, não precisariam parar nos boxes.

Fangio não largou bem, caiu para terceiro, mas precisou de apenas duas voltas para recuperar a liderança, e tudo ocorria conforme o plano até a volta 12, quando fez sua parada. A partir daí, se a corrida fosse um filme de Hollywood, os críticos de cinema diriam que o roteirista tinha pesado a mão.

Tudo deu errado nos boxes da Maserati. Quando os mecânicos finalmente liberaram o carro, ele estava a 28 segundos de distância do líder, Hawthorn, que era escoltado de perto por Collins.

Ainda se seguiram duas voltas nada impressionantes até que algo se transformou na pilotagem de Fangio. Subitamente, “Il Maestro”, como o chamavam os italianos, começou a fazer as perigosas curvas do Nordschleife —as mesmas que haviam matado um punhado de amigos seus, como Onofre Marimón— uma marcha acima do usual. O recorde de pista caía sensivelmente. Muito antes de os carros serem equipados com rádio, as Ferrari só puderam ser avisadas da aproximação do argentino quando era tarde demais.

Ao iniciar a última volta, Fangio investiu contra Collins, na curva Norte, em frente ao paddock, mas abriu a saída  e tomou o “xis”. A partir daí, os relatos divergem: alguns dizem que o inglês aliviou o pé quando os dois carros estavam lado a lado, se aproximando de uma ponte em que só cabia um carro. Outros, que a Maserati colocou duas rodas na grama para conquistar a segunda posição. O fato é que Fangio era segundo e se aproximava de Hawthorn, que brigou o quanto pôde antes de ceder a liderança.

Quando recebeu a bandeira quadriculada, Fangio estava 3,6s à frente do britânico. Matematicamente, sagrou-se pentacampeão mundial. No anos seguinte, já se aproximando dos 50, aposentou-se. Com todos os riscos que correu, morreu em sua casa, aos 84 anos. Hawthorn e Collins não tiveram a mesma sorte: menos de dois anos depois daquele GP da Alemanha já estavam mortos —este último, em consequência de um acidente sofrido na mesma pista de Nürburgring, no ano seguinte.

Curta a página do Grid no Facebook