Entre as qualidades que fazem do esporte a motor algo fascinante está a fragilidade dos resultados provisórios. No futebol, por exemplo, se um time termina o primeiro tempo com cinco gols a mais que o adversário no placar, seus jogadores ainda não podem contar com a vitória, mas uma eventual recuperação da outra equipe será improvável, lenta e gradual.
No automobilismo, por outro lado, se um piloto constrói uma vantagem de 50s na liderança para o segundo colocado, ela pode ser anulada em um piscar de olhos: basta que o carro quebre, ou que o competidor cometa um erro que lhe tire da pista, e uma vitória dada como certa se transforma em um retumbante abandono.
Nesses casos extremos, o clichê pisado do jogo que “só acaba quando o juiz apita” se desfaz: quando Oscar descontou um dos sete gols de diferença contra a Alemanha no Mineirão, nenhum torcedor brasileiro comemorou, pois a derrota já tinha sido sacramentada. O clichê das corridas, que “só acabam na bandeira quadriculada”, é muito mais defensável.
Mas, no caso da F-1, esse tipo de ocorrência se encontra em extinção, por dois fatores principais. Em primeiro lugar, porque os autódromos não apenas se tornaram mais seguros nas últimas décadas, como mais lenientes com os erros. Os pilotos que erram um ponto de freada dificilmente encontram um muro de proteção ou um atoleiro de brita —ao contrário, são recepcionados de braços abertos por grandes áreas asfaltadas, mais parecidas com estacionamentos de supermercado, e retomam o traçado sem maiores consequências.
O segundo motivo, não menos importante, é a durabilidade dos componentes. A partir de 2003, sob a desculpa de cortar custos, a F-1 passou a determinar, em regulamento, que motores e caixas de câmbio durassem um ou mais GPs. Quase 15 anos depois, não só o controle de gastos fracassou (os novos motores turbo-híbridos custam uma bica) como a categoria abdicou de um dos grandes trunfos do automobilismo sobre boa parte dos outros esportes.
E mesmo assim, apesar de tantos erros que os dirigentes cometem, o imponderável ainda insiste em dar as caras eventualmente, como aconteceu em Silverstone, neste domingo (16).
Pior para a Ferrari. A equipe italiana, ironicamente, foi a que mais se destacou no início da temporada pela sintonia com os pneus Pirelli, mas de nada isso adiantou na pista inglesa. Nas últimas três voltas, por erro de cálculo ou pela própria imprevisibilidade, tanto o carro de Raikkonen quanto o de Vettel não resistiram às curvas rápidas do traçado inglês e sofreram furos no composto dianteiro esquerdo.
Vettel sofreu o maior prejuízo, caindo de um terceiro lugar garantido para o sétimo posto, e agora contabiliza uma vantagem de apenas um ponto no campeonato para Hamilton. O inglês, contou com sua afinidade com Silverstone e os cavalos extras do motor Mercedes para faturar a terceira vitória seguida diante de seu público.
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