Silverstone é a sede do GP da Grã-Bretanha de forma ininterrupta desde 1987 e lugar onde foi realizada a primeira prova de F-1 válida para o Mundial. Como boa parte das equipes é inglesa, e outras estrangeiras têm suas bases lá (Mercedes e Red Bull), o evento é considerado “da casa” para a maior parte do grid. Mesmo assim, e mais uma vez, a pista corre o risco de sair do calendário.
Nesta semana, o BRDC (British Racing Drivers Club, entidade que administra o autódromo e promove o GP) anunciou que, apesar de ter contrato fechado para receber a categoria até 2026, acionou a cláusula de saída prevista pelo acordo, que faria com que não houvesse mais F-1 no Reino Unido após 2019.
Apesar das arquibancadas cheias e de estar encravado em um dos países mais fanáticos por corridas, o BRDC afirmou, em nota, ter acumulado um prejuízo de £ 7,6 milhões (R$ 31,59 milhões, em valores atuais) nos últimos dois anos com a realização do evento.
As perdas são mais uma herança maldita deixada por Bernie Ecclestone, CEO da Formula One Management até o início de 2017 e responsável pelo atual contrato com os promotores ingleses.
Pelo acordo, Silverstone pagou £ 11,5 milhões (R$ 47,8 mi) para receber a F-1 em 2010, sendo que a taxa sofre um acréscimo de 5% a cada ano —chegando a £ 16,2 milhões (R$ 67,33 mi) em 2017 e com previsão de desembolsar £ 25 milhões (R$ 103,91 mi) em 2026, de acordo com o jornalista James Allen. A data-limite para o acionamento da cláusula de saída seria o GP deste ano, que será realizado no próximo domingo (15).
“Essa decisão foi tomada porque não é financeiramente viável para nós realizar o GP da Grã-Bretanha nos termos de nosso atual contrato”, diz o comunicado do BRDC.
Há quem argumente que a atitude seja o meio encontrado de fazer pressão na atual detentora do controle da FOM, a Liberty Media, para obter uma taxa mais favorável.
Nas últimas décadas, Ecclestone se notabilizou por forçar um aumento nos valores das taxas cobradas dos promotores de alguns dos GPs mais tradicionais, como na França, Itália, Reino Unido e Alemanha. Ao mesmo tempo, países com pouca ou nenhuma tradição no automobilismo, como Coreia do Sul, Bahrein e Índia, não se importavam em desembolsar somas tão ou mais vultuosas —sempre com apoio estatal— do que sedes mais estabelecidas. O resultado foi uma queda acentuada de popularidade da F-1 em seus principais mercados.
Desde o início do ano, a Liberty Media Group tem dado sinais de que quer reverter essa tendência e reaproximar o circo de seus antigos fãs. Prova disso foi o anúncio do retorno não só do GP da França, ausente desde 2008, como também na tradicional pista de Paul Ricard. Não surpreende se o BRDC tiver encarado a situação como favorável para tentar pagar menos pelo evento, bem como fechar as contas no azul.
O AUTÓDROMO
Antiga base aérea da Segunda Guerra, Silverstone foi convertida em pista de corrida pouco após o fim do confronto, recebendo 50 GPs válidos pelo campeonato desde então (bem como outros tantos extracampeonato, como os International Trophies). O autódromo era conhecido pela altíssima velocidade média, pelo trânsito infernal que se formava antes de cada GP e pelo lamaçal em que se convertia nos dias de chuva. Após várias modificações de traçado e reformas, apenas o engarrafamento permanece.
O autódromo atrai 350 mil espectadores na soma dos três dias de atividade de pista —ou seja, mais do que qualquer outro GP, e mais do que qualquer outro evento esportivo no Reino Unido.
Nunca houve um campeonato da F-1 sem a etapa britânica.
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