Valtteri Bottas conquistou sua segunda vitória na carreira, na Áustria, em uma performance inconteste, com pole position e defesa direta de posição com Sebastian Vettel. Mas que será sempre lembrada pela suspeita de queima de largada.
Entre demonstração de reflexo e uma sorte desgraçada, a largada do finlandês da Mercedes foi, provavelmente, ambas as coisas. Mas foi válida —e seu debate evidencia a própria dificuldade que temos em determinar conceitos que damos como óbvios.
A diferença entre acelerar antes ou não do apagar das luzes é um exemplo disso. Tanto que a justificativa oficial da FIA para não punir Bottas foi a de que o movimento do carro estava “dentro da tolerância permitida” pelas regras. Em outras palavras, sim, o carro se moveu antes da largada, mas não, não configura queima.
Comunque Bottas è partito prima #Formula1 #AustrianGP pic.twitter.com/f7tiAACRWU
— Lo (@echelonbrother) 9 de julho de 2017
Num carro de F-1, as especificidades da transmissão fazem com que acionar a embreagem para passar do neutro à primeira marcha seja suficiente para que o conjunto se mova alguns centímetros para a frente. Isso era mais fácil de se ver até o início dos anos 90, na época das alavancas de câmbio. Também era uma época em que não existia monitoramento eletrônico de largada, e os comissários tinham muito mais trabalho em punir os apressadinhos.
Por isso, até 1995, a regra dizia que só se podia considerar uma queima de largada se as rodas dessem um giro completo antes do sinal verde aparecer. O carro podia até largar em movimento, mas havia um limite para o tolerável. Além disso, o tempo entre o acender da luz vermelha e o da verde era aleatório, definido pelo starter (se o nome Derek Ongaro veio à sua cabeça, cuidado: pode ser indicativo de idade avançada).
Isso mudou no GP Brasil de 1995, quando, em caráter de teste, foi implantado o monitoramento eletrônico de queimas de largada. Na etapa espanhola do mesmo ano, a novidade foi adotada de forma definitiva. “Colocados no asfalto, na posição de largada de cada carro, detectam, através de ondas de rádio, e da variação da sua potência, se o carro se moveu antes da luz verde ter sido acesa”, diz o anuário “Fórmula 1 1995-1996” de Francisco Santos. “Qualquer movimento de um dos carros superior a 20 cm é assinalado no mapa do computador para os comissários desportivos aplicarem a pena”, completa a nota.
Acontece que a tolerância aplicada se revelou um problema. Em Silverstone, no mesmo ano, um festival de penalidades foi aplicado. E não seria o único problema com largadas a ser enfrentado.
Havia a suspeita também, de que a Benetton houvesse desenvolvido um sistema que reconhecia a luz verde e acionava um controle de tração especial para largadas. No ano seguinte, a luz verde foi extinta e o procedimento passou a contar com uma sequência de luzes vermelhas, que dão o sinal ao se apagarem. Exatamente como hoje.
No fim, após uma briga entre pilotos e a fornecedora do sistema, a Tag Heuer, chegou-se a um acordo. A tolerância para movimento antes do sinal ainda existe. Bottas não quebrou nenhuma regra, venceu e está em terceiro lugar na tabela, a 15 pontos de Lewis Hamilton, e o resto é barulho.
Curta a página do Grid no Facebook