Montreal é antídoto para as costumeiras corridas em ‘estacionamentos de supermercado’

Por Daniel Médici
Daniil Kvyat, da Toro Rosso, passa perto da mureta de proteção nos treinos livres de sexta,
no Canadá (Clive Mason/Getty Images/AFP)

Pouco antes de os carros da F-1 se espremerem entre os muros de Monte Carlo, em maio último, o diretor da Mercedes Toto Wolff, fez duras críticas à F-1 moderna diante do microfone da imprensa.

Poucos dias após disputar a versão histórica da clássica Mille Miglia, Wolff disse não querer mais ver a F-1 correr em “autódromos que se parecem com estacionamentos de supermercado”.

“Quando você errava uma curva, antigamente, você estaria morto ou ferido. Hoje, se você errar uma curva, você apenas a contorna por fora e retorna ao traçado. Mas não em Monte Carlo, talvez não em Spa, talvez não em Monza, e talvez não em Suzuka”, disse.

“Nós temos que voltar para os autódromos onde você percebe quem são os melhores [pilotos].”

Wolff poderia muito bem ter incluído o GP do Canadá em seu rompante saudosista. Hoje, o circuito Gilles Villeneuve é um dos poucos do calendário que foge à lógica das áreas de escape virtualmente infinitas.

Essa tendência não começou, em boa medida, com más intenções. Após alguns acidentes com capotamento no início dos anos 2000, achou-se por bem trocas as velhas caixas de brita por áreas de escape asfaltadas.

(Claro que essa estratégia tem seus defeitos: se impede o carro de decolar, pode ser inócua em caso de perda de aderência ou frenagem. Pode ter salvado muitas vidas, mas não poupou a de Jules Bianchi, por exemplo.)

Em Montreal, porém, o circuito construído num parque, dentro de uma ilha artificial, não tem espaço para implantar áreas de escape em todas as curvas. A pista guarda muitas características de um traçado de rua, mas é muito mais rápida que Mônaco ou Cingapura, por exemplo.

Não à toa, muitos resultados imprevisíveis acontecem lá. Foi na etapa canadense, por exemplo, que ocorreram as primeiras vitórias de Hamilton, Kubica e Daniel Ricciardo, por exemplo. E também alguns sustos, felizmente sem gravidade, como o batida do próprio polonês, em 2007.

Numa época em que nem as curvas mais têm nomes próprios, uma mureta de proteção de Montreal tem uma distinção particular: o Muro dos Campeões, logo antes da linha de chegada, ganhou esse nome em 1999, quando Jacques Villeneuve, Damon Hill e Michael Schumacher abandonaram após espatifarem seus respectivos carros no local. Mas já fazia vítimas há muito mais tempo.

Antes em concreto armado, hoje a área conta com estruturas de absorção de impacto mais seguras. A FOM também considerou o local inseguro demais para a F-1, e mandou a organização do GP modificar o ângulo do muro. Felizmente, não ficou nada parecido com o estacionamento de um supermercado.

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