Pouco antes de os carros da F-1 se espremerem entre os muros de Monte Carlo, em maio último, o diretor da Mercedes Toto Wolff, fez duras críticas à F-1 moderna diante do microfone da imprensa.
Poucos dias após disputar a versão histórica da clássica Mille Miglia, Wolff disse não querer mais ver a F-1 correr em “autódromos que se parecem com estacionamentos de supermercado”.
“Quando você errava uma curva, antigamente, você estaria morto ou ferido. Hoje, se você errar uma curva, você apenas a contorna por fora e retorna ao traçado. Mas não em Monte Carlo, talvez não em Spa, talvez não em Monza, e talvez não em Suzuka”, disse.
“Nós temos que voltar para os autódromos onde você percebe quem são os melhores [pilotos].”
Wolff poderia muito bem ter incluído o GP do Canadá em seu rompante saudosista. Hoje, o circuito Gilles Villeneuve é um dos poucos do calendário que foge à lógica das áreas de escape virtualmente infinitas.
Essa tendência não começou, em boa medida, com más intenções. Após alguns acidentes com capotamento no início dos anos 2000, achou-se por bem trocas as velhas caixas de brita por áreas de escape asfaltadas.
(Claro que essa estratégia tem seus defeitos: se impede o carro de decolar, pode ser inócua em caso de perda de aderência ou frenagem. Pode ter salvado muitas vidas, mas não poupou a de Jules Bianchi, por exemplo.)
Em Montreal, porém, o circuito construído num parque, dentro de uma ilha artificial, não tem espaço para implantar áreas de escape em todas as curvas. A pista guarda muitas características de um traçado de rua, mas é muito mais rápida que Mônaco ou Cingapura, por exemplo.
Não à toa, muitos resultados imprevisíveis acontecem lá. Foi na etapa canadense, por exemplo, que ocorreram as primeiras vitórias de Hamilton, Kubica e Daniel Ricciardo, por exemplo. E também alguns sustos, felizmente sem gravidade, como o batida do próprio polonês, em 2007.
Numa época em que nem as curvas mais têm nomes próprios, uma mureta de proteção de Montreal tem uma distinção particular: o Muro dos Campeões, logo antes da linha de chegada, ganhou esse nome em 1999, quando Jacques Villeneuve, Damon Hill e Michael Schumacher abandonaram após espatifarem seus respectivos carros no local. Mas já fazia vítimas há muito mais tempo.
Antes em concreto armado, hoje a área conta com estruturas de absorção de impacto mais seguras. A FOM também considerou o local inseguro demais para a F-1, e mandou a organização do GP modificar o ângulo do muro. Felizmente, não ficou nada parecido com o estacionamento de um supermercado.
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