Quem apostava na aposentadoria de Nico Rosberg como a notícia mais importante da pré-temporada errou feio. É uma outra aposentadoria que promete chacoalhar ainda mais a F-1 no futuro: a de um piloto que só se inscreveu em uma corrida, no distante ano de 1958. E que, ainda por cima, nem sequer largou.
Nas últimas seis décadas, Bernie Ecclestone passou de vendedor de carros para dono de equipe e, finalmente, CEO da principal categoria do automobilismo. Aos 86 anos, retira-se —ou, melhor, é retirado do cargo. A Liberty Media, atual dona das ações do Formula One Group, decidiu afastar o grande responsável por tirar a F-1 do semi-amadorismo e transformá-la em um negócio bilionário.
Mas Bernie não era movido apenas pelo dinheiro, do contrário, já teria se aposentado muito antes. Ecclestone é um exímio negociador, e essa é a sua paixão. Negociava carros na juventude e, a partir de 1974, passou a negociar os direitos de TV da categoria (nessa época, já havia adquirido o controle da equipe Brabham). Tornou-se CEO da FOCA, Associação de Construtores de F-1 quatro anos depois, multiplicando seu poder de influência. Era tão bom em fazer acordos que raramente os organizadores dos GPs de cada país ganhavam tanto dinheiro com seus próprios eventos —o que explica, em parte, o fato de a categoria nunca ter emplacado nos EUA. Dentro do paddock, obteve o apoio até de seus opositores, enchendo os seus respectivos bolsos.
Pode-se criticar as decisões de Ecclestone, em especial, nos últimos 15 anos. Afastou a F-1 de seu próprio público, levando as corridas para fins de mundo em troca de cheques polpudos. Sobretudo, envolveu-se em uma disputa judicial com grandes bancos, fazendo com que os direitos comerciais da categoria caíssem nas mãos da CVC Capital Partners, empresa que jamais ligou para o esporte, contanto que ele oferecesse o maior retorno financeiro possível. O inglês foi mantido à frente do negócio, cumprindo à risca tal função, até que o distanciamento dos espectadores cobrou, finalmente, o seu preço.
A Liberty Media decidiu passar o bastão das questões esportivas para Ross Brawn, o qual, tal como Ecclestone, fez a sua carreira e a sua vida dentro do esporte. A princípio, parece uma decisão acertada, mas é importante que os brasileiros sejam alertados: Bernie tinha laços comerciais e afetivos com a prova em Interlagos, que a sustentavam no calendário mesmo sem o retorno comercial esperado. A troca de comando representa um sério risco à sua permanência no calendário, no futuro próximo.
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