Valtteri Bottas foi confirmado pela Mercedes como o grande beneficiário da aposentadoria precoce do campeão Nico Rosberg. O finlandês sai da Williams para a missão nada fácil de ser o companheiro de equipe de Lewis Hamilton. Seria arriscado apostar em Bottas para superar o inglês, mas, pela primeira vez, o piloto pode dizer que tem carro para brigar por vitórias na F-1.
Com isso, a Finlândia ganha um novo nome em sua lista de pilotos que ascenderam ao primeiro escalão do Mundial, e que em 2017 também conta com Kimi Raikkonen, na Ferrari. Mas não é de hoje que o país escandinavo, com 5,4 milhões de habitantes (menos que a cidade do Rio de Janeiro), sem um autódromo decente e que nunca recebeu um GP da categoria principal consegue formar tantos bons pilotos. Quais seriam, então, as razões do “milagre finlandês” na F-1?
O jornal inglês “The Guardian” se propôs a responder a essa pergunta em uma matéria de 2008 —e, para isso, entrevistou duas promessas finlandesas dos anos 90 que não deram certo, JJ Lehto e Mika Salo. Apesar dos resultados pouco expressivos, os veteranos deram algumas pistas interessantes.
Em primeiro lugar, parecia ser comum que finlandeses tivessem o primeiro contato com o volante desde cedo, ilegalmente. Com pouca concentração populacional, não é difícil para os jovens encontrarem ruas ociosas para treinarem suas habilidades. Além disso, muitas estradas do país são de terra, o que ajuda a apurar os reflexos dos aspirantes a campeões.
RALI, KARTÓDROMOS E TEIMOSIA
Não à toa, a Finlândia produziu nada menos que seis campeões mundiais de rali, contra três de F-1. Enquanto o país não demonstra o mínimo interesse em receber um GP, a etapa do Mundial de Rali é uma das mais importantes (e desafiadoras) do calendário. Disputada no verão, em estradas de terra, a competição é famosa pelos saltos que fazem os carros decolarem, pelos poucos pilotos não nórdicos que já se sagraram vitoriosos e pela especial de Ouninpohja, uma das mais clássicas da modalidade.
Por causa da neve, os snowmobiles (motos de neve) são opções comuns de transporte e também uma categoria esportiva.
Mas os finlandeses que escolhem correr no asfalto têm à disposição um sem-número de kartódromos para treinar suas habilidades. Karts são populares por lá desde os anos 1960, sendo que dificilmente alguém chega à F-1 sem ter passado pela categoria na infância.
Por fim, o terceiro ingrediente do milagre finlandês é o perfil meio “cabeça dura”, meio “cabeça fria” da população. Não à toa, a pátria de Kimi “Ice Man” Raikkonen é conhecida por seus habitantes teimosos e que não se deixam levar pelas emoções. Essa frieza é fundamental para não sucumbir à pressão a que os pilotos são submetidos dentro e fora do cockpit.
BAILE NA CHUVA
Curiosamente, foi o pai de Nico Rosberg, Keke, quem deu início à invasão finlandesa na categoria. Keke nasceu em Estocolmo, mas mudou-se para o país vizinho ainda criança. Atraiu os olhos da F-1 durante um evento que não contava pontos para o campeonato, o International Trophy de 1978. Enquanto a chuva torrencial que caía em Silverstone eliminava os favoritos, Keke assumiu a liderança e venceu sem sustos pela diminuta equipe Theodore. E foi campeão em 1982.
Ao se aposentar, Keke atuou como empresário de promessas finlandesas, como JJ Lehto e Mika Hakkinen —este último, bicampeão mundial na F-1.
Ainda é cedo para saber se Bottas vai se alinhar aos grandes nomes do esporte de seu país ou às promessas que não deram certo, como Salo e Heikki Kovalainen. O fato é que sua chegada a uma equipe competitiva, vindo do país que veio, não constitui surpresa.
Curta a página do Grid no Facebook