A boa e velha caixa de brita ganha novos defensores

Por Daniel Médici
Área de escape asfaltada em Interlagos, durante treinos para o GP do Brasil de 2016 (Daniel Médici/Folhapress)
Área de escape asfaltada em Interlagos, durante treinos para o GP do Brasil de 2016 (Daniel Médici/Folhapress)

Você que assiste à F-1 há mais de 15 anos deve ter percebido o quanto os circuitos mudaram desde então. Além da saída de países tradicionais do calendário e a profusão de tilkódromos nababescos, as áreas de escape já não são mais as mesmas armadilhas de antes. Onde antes havia brita, reinam grandes tapetes de asfalto.

As velhas caixas de brita estão em extinção. A verdade é que pouca gente gostava delas. Para os donos dos autódromos, davam mais despesas de manutenção. Para chefes de equipes, danificavam os carros. E, para os pilotos, qualquer saída de pista podia resultar em um abandono pouco honroso —era bastante humilhante atolar a poucos metros do traçado, enquanto a TV mostrava as rodas traseiras rodando em falso.

Além disso, argumentava-se, não eram tão seguras. Elas começaram a ser repensadas quando, em 1999, Michael Schumacher saiu da pista em Silverstone. Ao encostar na brita, seu carro deu vários pequenos saltos, não houve desaceleração e a Ferrari bateu de frente no muro. Candidato ao título, o alemão teve uma perna quebrada e perdeu quase metade da temporada recuperando-se da lesão, a mais grave que sofreu como piloto.

A partir de então, pouco a pouco, as áreas de escape asfaltadas (de um asfalto mais poroso que o normal) foram tomando conta da paisagem dos autódromos no mundo. Agora, quase 20 anos depois, o velho sistema de segurança vem angariando uma nova geração de defensores.

As críticas não são nem um pouco novas. Argumenta-se, com razão, que os autódromos de hoje em dia são condescendentes demais com pilotos agressivos. Atualmente, quem arrisca uma freada na casa do chapéu pode até errar e passar dos limites da pista, mas dificilmente isso resultará em abandono. Volte algumas décadas atrás e veja o cemitério de destemidos que as caixas de brita costumavam ser: Luis Pérez Sala, Philippe Alliot e até mesmo pilotos bons, como Gerhard Berger, tinham que voltar a pé para os boxes. Hoje, as novas gerações enfrentam muito menos obstáculos antes de verem a bandeira quadriculada.

Em 2014, muitos fãs protestaram quando a famosa Parabolica, de Monza, teve a sua tradicional área de escape asfaltada. Mas o estopim aconteceu no GP do México de 2016, quando Lewis Hamilton errou a freada da primeira curva, passou por cima do gramado e manteve a liderança sob Nico Rosberg, sem ser punido por isso.

Pior ainda: Max Verstappen repetiu a manobra sobre Sebastian Vettel nas voltas finais em Hermanos Rodríguez, o que levou a direção de prova a distribuir uma baciada de punições após o fim da corrida, bagunçando o pódio e encarando uma enxurrada de críticas.

Christian Horner, que teve sua dupla de pilotos envolvida no imbróglio mexicano, se tornou uma das vozes mais ativas no remodelamento das áreas de escape. Ao invés de deixar que os comissários decidam qual manobra foi válida ou não, disse o chefe da Red Bull, “vamos evitar a situação em que os pilotos possam cortar caminho e ganhar vantagem. Coloquem uma caixa de brita lá”.

A ideia pode desagradar a donos de autódromos, chefes de equipe e pilotos mais agressivos. Mas a F-1 teria muito a ganhar.