Única equipe brasileira de F-1 deve ganhar documentário para passar sua história a limpo

Por Daniel Médici
Detalhe do Copersucar-Fittipaldi FD01, o primeiro carro da equipe (Daniel Médici - mar.2015/Arquivo Pessoal)
Detalhe do Copersucar-Fittipaldi FD01, o primeiro carro da equipe (Daniel Médici – mar.2015/Arquivo Pessoal)

Não há data para o lançamento, mas já estão na internet alguns trailers do documentário “As Asas de Ícaro”, documentário sobre a Copersucar-Fittipaldi produzido pela Itoby Filmes. Já é uma boa notícia —a história da única equipe brasileira a competir na F-1 merece um exame mais detido à luz do presente.

Na época, o projeto  de um time nacional foi visto como grande fracasso. Inscreveu-se em 103 GPs entre 1975 e 1982, e jamais venceu. Conseguiu três pódios, sendo o primeiro deles um segundo lugar de Emerson, no GP do Brasil de 1978, efusivamente comemorado pela torcida em Jacarepaguá. Apesar disso, fechou as portas como que caída em desgraça.

Nos próprios trailers já divulgados, os antigos funcionários da Copersucar-Fittipaldi defendem que o Brasil jamais compreendeu o esforço de se montar uma equipe para competir no maior campeonato automobilístico do mundo, contando com uma fração do orçamento das equipes grandes. Ingo Hoffman, Chico Serra e até mesmo jornalistas chegam a apontar para um culpado: a imprensa não especializada da época. E talvez eles tenham razão.

Em uma das entrevistas que fiz com Emerson Fittipaldi para a Folha, ele contou dois episódios que resumem bem a assimetria entre as reais dificuldades da F-1 e a percepção do público brasileiro. A primeira delas aconteceu antes de ele e seu irmão, Wilson, fundarem a própria equipe.

Em 1973, Emerson já era campeão mundial e havia acabado de se sagrar vice daquela temporada, perdendo o título para Jackie Stewart. Ele conta que, ao chegar ao Brasil, na primeira entrevista que concedeu à imprensa brasileira, um dos repórteres perguntou: “Por que você foi só segundo?”. Como se fosse um demérito.

Os Anos de Chumbo corriam soltos no Brasil. Apesar da repressão política, a economia crescia e a seleção brasileira de futebol havia demorado quatro Copas do Mundo para conquistar o tricampeonato. Havia a ilusão generalizada de que aquele era mesmo o país do futuro —e um vice-campeonato mundial não condizia com a narrativa que se construía.

Já no final dos anos 70, prossegue Emerson, a fama de perdedora da equipe já afastava potenciais patrocinadores. Além do bicampeão, a Fittipaldi tinha Keke Rosberg como segundo piloto. Entre os engenheiros, estavam Harvey Postlethwaite e um jovem Adrian Newey. Mesmo assim, o dinheiro não veio, o carro não pôde ser desenvolvido e o time afundou.

Em 1982, enquanto a Fittipaldi encerrava as atividades, Postlethwaite se sagrava campeão de construtores pela Ferrari, e Keke Rosberg, o de pilotos, pela Williams. E Newey se tornaria um dos maiores nomes do esporte a motor.

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