Nico Rosberg demonstra que não é preciso ser o piloto mais espetacular para conquistar título

Por Daniel Médici
Nico sobe ao pódio no GP Brasil, mais uma corrida na qual fez a lição de casa (Leo Correa/Associated Press)
Nico sobe ao pódio no GP Brasil, mais uma corrida na qual fez a lição de casa (Leo Correa/Associated Press)

Nico Rosberg foi obrigado a provar seu valor em Abu Dhabi para conquistar seu título. Após a primeira parada, saiu dos boxes atrás de Verstappen e teve de arriscar uma ultrapassagem sobre o arrojado holandês para recuperar a posição e perseguir o líder, Lewis Hamilton.

Não bastasse isso, Hamilton jogou suas fichas em compactar o pelotão e deixar Rosberg vulnerável ao ataque de Vettel e Verstappen. Dado o contexto, sua corrida foi uma demonstração de sangue de barata que não deve ser diminuída.

Dito isso, é difícil dizer que, no decorrer da temporada mais extensa da F-1, Rosberg foi mais espetacular que seu concorrente mais próximo e companheiro de equipe. Dono de três vitórias em Mônaco, não correu bem em pista molhada —ao contrário de Hamilton, que venceu a prova.

Nas poucas disputas diretas, Rosberg também não se destacou. Na Áustria, fazia uma corrida irretocável, até que encontrou a outra Mercedes crescendo no retrovisor. Arriscou espalhar uma curva na última volta, e se deu mal. No Canadá, Hamilton tentou uma manobra parecida, e o fez de forma irretocável.

Nas últimas décadas da F-1, o espectador passou a valorizar a pilotagem visivelmente agressiva, de encher os olhos, mas, historicamente, o piloto campeão costuma ser o piloto mais cerebral, que corre na frente de todos, o mais devagar possível. Nesse sentido, Nico herdou muito pouco da verve ao volante de seu pai, Keke.

Isso não é demérito. Não sem razão, Hamilton ainda pode ser considerado um piloto melhor que Rosberg, mas o alemão soube jogar o jogo psicológico. No tabuleiro de xadrez da F-1, Nico se aproveitou da falta de foco do inglês no início do campeonato e imediatamente após as férias de verão, encaixou vitória atrás de vitória e fez a lição de casa nas provas em que Lewis esteve mais rápido.

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A quebra do companheiro na Malásia foi a senha para entrar nos últimos GPs com o regulamento debaixo do braço. Pode-se questionar se um regulamento que prevesse descartes de pontos não seria mais justo, nesse caso, mas as regras já estavam aí quando as primeiras luzes se apagaram em Melbourne, e a estratégia de Rosberg foi inquestionável.

Nunca antes um campeonato teve 21 corridas. Em um arco tão longo, Rosberg soube se manter frio o suficiente para administrar a vantagem que vinha construindo desde março. O título está em boas mãos.