Ron Dennis se despede da F-1 pela porta dos fundos

Por Daniel Médici
Ron Dennis assiste aos treinos do GP do Bahrein deste ano (Andrej Isakovic/AFP)
Ron Dennis assiste aos treinos do GP do Bahrein deste ano (Andrej Isakovic/AFP)

Se tem alguém que deveria poder sair da F-1 com a cabeça erguida, é Ron Dennis. Chefe de equipe por anos da McLaren e responsável por manter a equipe no topo ao longo de quase três décadas, o inglês foi forçado a renunciar à sua posição de CEO do time após o GP do Brasil. Zak Brown vai assumir parte das funções de Dennis na empresa, com diretor executivo.

É uma despedida pouco honrosa para a biografia que Dennis, 69, construiu na categoria. Quando assumiu a McLaren, em 1981, o time havia perdido o bonde da história —colecionava posições intermediárias e, apesar de dois títulos de pilotos no currículo, não vencia uma corrida desde 1977.

Dennis havia começado nos anos 60 a trabalhar na F-1, como mecânico, e fundou sua própria equipe de F-2, a Project Four. Poderia ter levado o nome de sua escuderia e enterrado a McLaren —o fundador havia morrido em 1970 e seu sócio, Teddy Mayer, renunciaria ao posto de chefe de equipe conjunto e venderia suas ações em 1982. Manteve o nome do neozelandês em uma equipe que contava com não mais que um punhado de funcionários daquela época. Mas é de lá que vem o prefixo “MP4” dos modelos McLaren desde então.

Foi de Dennis a iniciativa de chamar John Barnard para o time, o engenheiro que se tornou artífice do retorno da McLaren às vitórias. E o resto é história.

Mais que uma equipe vencedora, Dennis montou um conglomerado de esporte e tecnologia que produz e exporta tecnologia em diversas áreas, de carros de rua à indústria farmacêutica.

Outras equipes também eram clientes. No início dos anos 2000, Dennis se orgulhava do fato de seu crachá não dar acesso a todas as salas da fábrica do time, em Woking, para não ferir os acordos de venda de componentes para seus concorrentes na pista. A McLaren também chegou a produzir as ECUs (centralinas que comandam processos eletrônicos no motor dos carros) padronizadas para todo o grid da categoria.

Quem descobriu a F-1 em 2013, porém, conhece outra McLaren —que viu as relações com a Mercedes se deteriorarem e está presa, hoje, a um motor Honda sofrível. Pensando no futuro, os sócios de Dennis (que possui 25% das ações do grupo; o restante está nas mãos de Mansour Ojjeh e de um fundo barenita) decidiram afastá-lo do comando da empresa, contra a sua vontade.

Dennis já não comandava a equipe em pista. Ele retém sua posição no conselho do grupo.

Atualização: Foi Teddy Mayer (1935-2009), e não Tyler Alexander (1940-2016), o proprietário da McLaren até vender suas ações em 1982. Ambos os norte-americanos têm a biografia fortemente vinculada à equipe e ao fundador, Bruce McLaren. O texto foi corrigido.