Um dos assuntos mais comentados no paddock de Interlagos é o paddock de Interlagos: em 2015, não pegou bem à organização entregar o espaço ainda em obras, mas parece que, agora sem o ar de casa em reforma, o episódio foi perdoado.
Acostumados a instalações suntuosas de autódromos recém-inaugurados em países não exatamente famosos pela tradição democrática, como Bahrein e China, os habitantes do mundinho da Fórmula 1 passaram a criticar com mais ênfase o exíguo corredor que costumava ser o paddock paulistano. Não era uma crítica descabida, mas ela acabou por esconder o fato de que, assim que os carros deixam o pit lane, encontram uma das pistas mais inovadoras da atualidade.
Segundo Luis Ernesto Morales, engenheiro-chefe do GP Brasil, boa parte das novas ideias ideias aplicadas à pista vieram dos aeroportos. “Um F-1 chega a 344 km/h na reta dos boxes. É a mesma velocidade com a qual um avião levanta voo”, diz.
Por exemplo, Interlagos foi o primeiro autódromo no mundo que implantou o grooving —ranhuras feitas no asfalto para escoar a água e desemborrachar o traçado. A solução deu certo e só então foi adotada por outros circuitos, como Spa-Francorchamps e Suzuka —este último, uma referência em tecnologia.
Além disso, diz Morales, Interlagos é a única pista do Mundial que conta tanto com as barreiras de absorção de impacto americanas (“Safer Barrier” é o nome oficial) quanto as europeias (chamado de “soft wall”, da Tecpro).
“O sistema americano, desenvolvido para a Nascar, precisa de algumas condições específicas”, já que foi pensado para os circuitos ovais, diz Morales. A curva do Café atende a esses requisitos, por ter o muro grudado no asfalto e ter inclinação, e a ideia funcionou. Antes da mudança, esse ponto da pista ficou conhecido pelos acidentes fatais envolvendo carros da Stock Car.
A vantagem é que o sistema americano tem um custo de manutenção muito mais baixo —mais até do que das tradicionais barreiras de pneu, ainda em uso.
Atualmente, até mesmo as ondulações do asfalto são pensados para incrementar a segurança dos pilotos: na entrada dos boxes, foram colocadas ondulações de propósito, para incentivar os pilotos a fazer um traçado mais aberto na reta dos boxes.
“O Charlie Whiting [chefe de segurança da F-1] queria que implantássemos uma lavadeira [zebra] naquele local, mas demonstramos pra ele que isso poderia jogar os carros para o muro do outro lado da reta em caso de acidente”, conta o engenheiro.
O autódromo José Carlos Pace pode não ser a Meca do conforto, mas, hoje em dia, não deve em nada aos colegas ricos.