“De jeito nenhum eu teria sobrevivido se Arturo Merzario não tivesse me tirado [do carro]. Eu não estaria aqui. Ele foi o único que entrou em meio às chamas, abriu o cinto de segurança e me tirou. Ele, apenas ele, não os outros. Um cara só.”
Foi assim que Niki Lauda descreveu seu resgate à revista britânica “F1 Racing” publicada em agosto de 2013.
A batida brutal do austríaco no GP da Alemanha de 1976, em Nürburgring, completa 40 anos nesta segunda (1º), mas, graças ao filme “Rush”, a cena ainda está fresca na memória de muita gente.
O circuito, de 22,8 km de extensão, a maior parte dos quais em trechos de montanha, não tinha bombeiros suficientes para agir rapidamente em caso de acidente —e, mesmo que tivesse, nenhum deles usava roupas com proteção anti-chamas. Quando Lauda se espatifou na curva Bergwerk, o responsável pelo posto não teve como reagir enquanto o piloto cozinhava a 800ºC.
Segundo o próprio Lauda, foram 55 segundos em meio ao fogo. Para piorar, seu capacete voou com o impacto (o que lhe rendeu uma polpuda indenização do fabricante).
Além de Merzario, outros pilotos, como Brett Lunger, Guy Edwards e Harald Ertl também pararam para tentar prestar socorro.
Na Fórmula 1 dos anos 70, episódios do tipo aconteciam mesmo em pistas muito mais curtas do que Nürburgring. Em Zandvoort, na Holanda, três anos antes, o inglês Roger Williamson também havia batido e ficado preso entre as ferragens enquanto o carro, capotado, pegava fogo. Desesperado, David Purley encostou e tentou desesperadamente retirar o colega por quase quatro minutos, enquanto bombeiros e bandeirinhas sem treinamento algum assistiam, atônitos.
Williamson não teve a mesma sorte. Morreu ali mesmo, na área de escape, enquanto a corrida prosseguia, sem interrupções, até a bandeira quadriculada.
Purley foi reconhecido por sua bravura (ao contrário de Merzario, seu ato foi filmado pela TV e transmitido ao vivo). Foi condecorado com a medalha George pela Inglaterra e continuou a desafiar o perigo. Nos treinos para o GP britânico de 1977, em Silverstone, ganhou uma curiosa menção no Guinness: o ser humano que sobreviveu à maior força G aplicada em um acidente, impressionantes 179,8 vezes a força da gravidade. Ele havia batido contra o muro de proteção a 173 km/h.
Ao desistir do automobilismo, se tornou acrobata aéreo. Morreu em 1985, quando seu avião caiu.
Merzario foi mais longe na categoria. Largou em 57 GPs, marcou ponto em cinco deles e até chegou a construir um carro próprio, que foi um fracasso. Com resultados medíocres, o italiano era mais famoso por circular pelo paddock com um chapéu de cowboy com o logotipo da Marlboro, que o patrocinava.
Muitas vezes, no automobilismo, a verdadeira bravura não se mede em recordes.