GP da Hungria foi o novo ápice da judicialização da F-1

Por Daniel Médici
Hamilton levou pra casa a liderança e um dos troféus mais bonitos da temporada (Attila Volgyi/Xinhua)
Hamilton levou pra casa a liderança e um dos troféus mais bonitos da temporada (Attila Volgyi/Xinhua)

O GP da Hungria, décima primeira etapa do mundial, terminou com pelo menos dois vencedores. O mais óbvio foi Lewis Hamilton, que tomou a ponta na largada e, deixando Nico Rosberg para trás, assumiu pela primeira vez a liderança do campeonato em 2016.

Uma outra força, porém, foi ainda mais dominante do que o tricampeão da Mercedes. Uma força que se mostrou inabalável em todos os dias de atividade de pista: a judicialização da Fórmula 1.

Antes da luz verde acender para o primeiro treino livre, ela já mostrava suas garras, com a discussão sobre a comunicação por rádio entre piloto e equipe. A polêmica se arrastava desde o GP britânico, com a punição a Rosberg decorrente de uma instrução sobre o uso do câmbio. O que os engenheiros podem comunicar ao cockpit e o que o dono do capacete deve descobrir por si próprio? Qual o sentido de equipar os carros com rádios e sensores de telemetria? Seria melhor que todos esses aparatos fossem banidos e retornássemos à boa e velha comunicação por placas?

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No domingo, Jenson Button teve de cumprir uma punição de cinco segundos porque a McLaren avisou que seus freios estavam nas últimas. Ele reclamou, com razão —os freios são o principal item de segurança de um carro e qualquer defeito pode colocar a integridade do piloto em xeque. Sergio Pérez terminou o GP da Áustria na barreira de pneus por causa de um problema semelhante, de conhecimento de sua equipe, que ficou em silêncio para evitar uma punição.

A McLaren escapou por pouco de outra punição, por Fernando Alonso extrapolar o limite da pista na curva 4 três vezes. É um sinal dos tempos: quando havia grama ou brita delimitando os limites da pista, não era necessária uma legislação a respeito. Hoje, os autódromos perdoam maternalmente os menores erros dos pilotos, com suas generosas áreas de escape asfaltadas, e os comissários tiveram de ser incumbidos da missão de vigiar as quatro rodas de cada monoposto para que elas não fujam de seu claustro de asfalto.

Mas a principal querela judicial do GP aconteceu no sábado, quando a pole de Rosberg demorou cinco horas para ser oficializada. O piloto da Mercedes não teria desacelerado o suficiente em um trecho sob bandeira amarela na volta em que marcou o melhor tempo. Outra vez, o regulamento entra em uma zona cinzenta e as cabeças da torre de cronometragem devem analisar se um competidor levou ou não vantagem indevida.

Vale ressaltar que as decisões extrapista repercutiram ainda mais porque, para sermos francos, pouca coisa digna de nota aconteceu na corrida em si. No esporte a motor como no futebol (ou, extrapolando, no noticiário de Brasília), não é bom sinal quando os juízes tomam para si o protagonismo do evento.