Lá se vão 30 anos desde que a F-1 rompeu a Cortina de Ferro pela primeira vez, realizando uma corrida na Hungria. O evento era a estreia do travadíssimo Hungaroring, construído especialmente para receber a categoria e suas câmeras de TV. Três anos depois, o Muro de Berlim cairia e, com ele, a importância geopolítica do GP. Durante a maior parte dos anos 90 e 2000, a etapa seria pouco mais do que uma procissão de duas horas em um emaranhado de curvas lentas, com uma outra exceção.
Mas aquela prova de 1986, lembrada com justiça pela incrível ultrapassagem de Piquet sobre Senna, foi apenas o segundo GP da Hungria da história. Cinco décadas antes, um outro piloto brilhou em um circuito igualmente cheio de curvas.
Em 21 de junho 1936, 100 mil espectadores se aglomeraram no parque Népliget, em Budapeste, para ver seus heróis Rudolph Caracciola, Achille Varzi, Bernd Rosemeyer, Tazio Nuvolari e Manfred von Brauchitsch nos carros mais poderosos da época: Auto Unions, Mercedes e Alfa Romeos.
Especialmente os dois primeiros, alemães e prateados, eram os favoritos da prova e do público, que incluía o então regente, Miklós Horthy, artífice da aliança do país com o Terceiro Reich. O regime nazista também via o automobilismo como máquina de propaganda e, para demonstrar a dita superioridade técnica alemã, inundava as fábricas nacionais com dinheiro estatal. O resultado era, de fato, a superioridade técnica do carros prateados.
A expectativa era resumida por um jornal de Budapeste à época: “Este domingo será uma celebração húngara, um marco da era que nos levará à união com os países que podem se dizer automobilisticamente civilizados”.
A celebração alemã ficou pelo caminho, porém: no circuito de 5.000 metros cheio de curvas, a cavalaria das Mercedes e Auto Unions se esvaiu e abriu espaço para a Alfa Romeo de Nuvolari. O “mantuano voador” ultrapassou von Brauchitsch e Rosemeyer e abriu caminho para uma de suas maiores vitórias, comparável ao GP da Alemanha do ano anterior, também com um carro defasado.
O triunfo de Nuvolari e de seu chefe de equipe, Enzo Ferrari, teve um ar caseiro para o projetista da Alfa à época, Vittorio Jano (ou Viktor János), um italiano filho de imigrantes húngaros.
Aquela seria a única prova no parque Népliget (ou parque do Povo). Os húngaros teriam de esperar mais 50 anos para assistir a outra grande corrida em seu país.