Duas flechas largas demais para a mesma pista

Por Daniel Médici
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Quem quer que tenha apelidado as Mercedes de “flechas de prata”, quase um século atrás, pensaria duas vezes ao fazê-lo hoje: são os carros mais rápidos da Fórmula 1, mas parecem largos demais para serem comparados a flechas —ou até mesmo para dividir a mesma faixa de asfalto.

A colisão que definiu o resultado do GP da Áustria, no último domingo (3), fez eco ao duplo abandono de Hamilton e Rosberg no GP da Espanha, em maio, mas as disputas de contato entre os dois remonta a, pelo menos, o GP da Bélgica de 2014. Nessa ocasião, uma tentativa de ultrapassagem do alemão resultou no abandono do companheiro.

Toto Wolff já havia deixado claro que brigas por posição estariam liberadas dentro da Mercedes, contanto que não houvesse “vítimas” ou perdas dos preciosos pontos do campeonato de construtores (eles são revertidos em premiações em dinheiro no final do ano). Já é a segunda vez no ano, porém, que o chefe dos prateados tem de correr nos bastidores para colocar panos quentes em uma situação do tipo.

Não acredito que, necessariamente, toda batida que acontece em uma corrida tenha um culpado. No caso da ocorrência no Red Bull Ring, nada mais natural —havia dois pilotos com equipamentos similares brigando por um campeonato mundial, muito pouco dispostos a fazer concessões.

Talvez tenha faltado habilidade e sangue frio a Rosberg para bloquear a manobra do companheiro, mas isso não é passível de punição. Ou, melhor, a punição veio justamente na forma de uma asa quebrada e na perda de um pódio assegurado. Uma pena, tendo em vista as outras 70 voltas brilhantes que o alemão entregou ao público e à sua equipe.

Enquanto a opinião pública se divide entre os partidários de um piloto e de outro, os jornalistas que acompanham a Fórmula 1 prestam mais atenção nas manobras de outro personagem: Wolff, que pode a qualquer momento rescindir o direito de sua dupla de disputar posições livremente.