Cidade de Baku brilha como cenário de corrida apagadíssima

Por Daniel Médici
Baku, vista de seu ângulo mais europeu, recebe a F-1 para o GP da Europa (Ivan Sekretarev/AFP)
Baku, vista de seu ângulo mais europeu, recebe a F-1 para o GP da Europa (Ivan Sekretarev/AFP)

Hamilton precisava de uma corrida de recuperação após bater nos treinos e largar em décimo. A missão de Rosberg era provar para si mesmo e para o mundo que tem a garra e o sangue frio necessários para ser campeão. Tudo isso num circuito de rua debutante, dotado de uma longa reta, algumas curvas rápidas e uma seção tão estreita que se assemelha mais a uma entrada dos boxes.

O que parecia ser receita suficiente para uma ótima prova de F-1 acabou não dando liga. Poucas disputas de posição, em boa parte por causa de um asfalto que não exigiria mais que uma troca de pneus para a maior parte dos pilotos, renderam mais bocejos do que emoções aos espectadores.

Não espanta que a transmissão de TV do GP da Europa tenha se concentrado tanto em tomadas que privilegiavam o skyline de Baku em detrimento dos carros que rasgavam as ruas.

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Nico Rosberg chegou em primeiro, mas o verdadeiro vencedor foi o regime do Azerbaijão, que conseguiu justamente o que queria: se aproveitar da estrutura da F-1 para divulgar uma imagem europeizada do país.

A começar pelo nome da etapa, GP da Europa, título normalmente empregado para a segunda corrida da temporada em um mesmo país —mas não existe um GP do Azerbaijão.

Perdido no meio do Cáucaso, com o pé no mar Cáspio, o país fica, por falta de palavra melhor, na chamada Eurásia, junto com um punhado de outras ex-repúblicas soviéticas. Dá-lhe aspas nesse GP da “Europa”.

Aliás, nada contra o direito à auto-afirmação dos Estados e dos povos. O Azerbaijão que se alinhe como bem lhe convém. Mas é de se ressaltar que o título dado ao GP é mais do que uma definição descritiva: é um recado ao mundo.

A cidade que as câmeras da F-1 registraram, porém, não deixam nada a dever para qualquer capital da Europa Ocidental. Avenidas largas entremeadas por boulevards arborizados, edifícios do século 19 e grandes jardins europeus compunham a paisagem ao redor do traçado.

Não é a primeira jogada do país para se vender como parte do Velho Mundo. O futebol do Azerbaijão é filiado à Uefa e sua capital está confirmada como uma das sedes da Eurocopa pan-europeia de 2020.

No pódio, para entregar o troféu ao vencedor, Nico Rosberg, estava ninguém menos do que Ilham Aliyev, que ostenta o título de presidente da República desde 2003, tendo recebido a faixa de seu próprio pai —um curioso caso de Presidência hereditária. A seu lado, a imbuída de premiar a equipe vencedora era sua mulher, Mehriban Aliyeva, no melhor estilo Elena Ceausescu.

Coadjuvante de luxo, Rosberg pega o voo de volta para casa com 25 pontos a mais na bagagem, 24 à frente do companheiro de equipe. Nada mal para um passeio nas ruas de uma bela cidade.