No próximo dia 12 de junho, quando for dada a largada para o GP do Canadá, o Brasil terá quebrado um recorde na Fórmula 1 —mas não um recorde do qual podemos nos orgulhar.
A corrida será a consumação do maior hiato de vitórias de pilotos nacionais na categoria desde o primeiro triunfo, em 1970. Terão sido 2.464 dias (ou quase seis anos e nove meses) sem a Globo rodar o “Tema da Vitória” após a bandeirada. A última vez que isso aconteceu foi no GP da Itália de 2009, o último triunfo de Rubens Barrichello.
O jejum supera os intermináveis 2.457 dias que separaram a última vitória de Ayrton Senna, na Austrália, em 1993, e a primeira de Rubinho, na Alemanha, em 2000.
Os brasileiros nunca se acostumaram a esperar muito pelo êxito na F-1, diga-se de passagem. Apesar de os primeiros aventureiros, com carros particulares e pouco dinheiro, como Chico Landi e Fritz d’Orey, não terem se destacado, Emerson Fittipaldi venceu um GP logo em sua primeira temporada —a etapa norte-americana. Foi campeão dois anos depois.
Durante quase duas décadas e meia, os brazucas exerceram um protagonismo incrível no certame. “Deve ser a água que eles bebem”, diziam os europeus, em tom de brincadeira, na época em que Piquet e Senna arrematavam títulos em sequência. Bom… não era.
As perspectivas atuais não dão margem para otimismo. A Williams de Felipe Massa não tem demonstrado ser carro o suficiente para brigar por vitórias, mesmo quando as Mercedes estão fora do páreo. O outro Felipe, Nasr, está preso ao cockpit da moribunda Sauber. Com a situação lamentável das categorias de base no Brasil, não é muito irreal imaginar esse hiato se estendendo até o fim da década, pelo menos.
É claro que não é impossível alguém se apaixonar por um esporte mesmo que não haja um competidor de seu país vencendo. Mas a própria mídia brasileira trata a F-1, e o esporte em geral, com forte viés nacionalista. A perspectiva, portanto, é que o interesse pelo esporte a motor no Brasil continue caindo.
A título de comparação, duas outras potências do automobilismo também acumulam anos na fila para ver um compatriota no alto do pódio. A Itália (que, a bem da verdade, torce mais para a Ferrari do que para pilotos italianos) não ganha uma prova desde o GP da Malásia de 2006. Já a França de Alain Prost, René Arnoux e Jacques Lafitte não sabe o que é vencer desde o GP de Mônaco de 1996, com o azarão Olivier Panis.