F-1 ressuscita modelo antigo de classificação, mas isso pode não resolver o problema

Por Daniel Médici
A briga pelo sistema de classificação teve, pelo menos, o mérito de unir os pilotos politicamente (@nicorosberg/Instagram/Reprodução)
A briga teve, pelo menos, o mérito de unir os pilotos politicamente (@nicorosberg/Instagram/Reprodução)

Foi uma novela mais longa do que deveria, mas o falido sistema de classificação que estreou no GP da Austrália será enterrado definitivamente, e a definição do grid para o GP da China será feita como em 2015 —sem a eliminação do piloto com o pior tempo a cada 90 segundos.

O modelo havia sido anunciado pela FIA ao final de fevereiro e, apesar do alerta de engenheiros e da oposição da maioria dos pilotos, foi implementado logo na primeira etapa. Foi um desastre: com o cronômetro ainda correndo em Melbourne, a pista já estava vazia e pilotos haviam colocado até a calça jeans, todos conformados com as posições de largada obtidas com o primeiro tempo do Q3.

Para surpresa geral, o sistema não foi derrubado por uma reunião de chefes de equipe às vésperas do GP do Bahrein. Pilotos e fãs se revoltaram novamente e, após consenso das equipes, os dirigentes do esporte concordaram em esquecer que um dia haviam implantado um regulamento tão tosco e mal pensado.

A discussão toda causou preocupação em toda a comunidade da F-1 e ao menos teve o efeito positivo de unir os pilotos politicamente. Em Xangai, muitos deles postaram fotos de um jantar ao qual boa parte do grid compareceu, em tom de desafio a Bernie Ecclestone, avesso à mobilização.

O problema do formato de classificação, porém, não está totalmente resolvido, por causa de um detalhe importante: as novas regras que pesam sobre o uso de pneus —e permitem que os pilotos utilizem compostos supermacios durante o fim de semana.

Isso porque todos os pilotos que passarem ao Q3 (ou seja, os dez primeiros) deverão largar com os mesmos pneus utilizados no Q2. Os que não o fizerem estão liberados para largar com compostos novos.

O problema é que os supermacios, com os quais as melhores voltas deverão ser obtidas, tendem a perder rendimento mais rápido. Dessa forma, largar de pneus usados se torna uma grande desvantagem.

Resumindo o drama: se classificar entre os dez primeiros poderá ser um péssimo negócio.

A equipe Haas —ela mesma, outra vez—, notou isso já no GP do Bahrein. No sábado, Romain Grosjean chegou até mesmo a vibrar por ter tido seu tempo superado no Q2. Largou na nona posição e chegou em quinto lugar, graças à estratégia.

A volta do sistema antigo pode salvar o Q3, mas não será de se estranhar se poucos carros se arriscarem na pista durante a etapa anterior.

Os treinos livres para o GP da China começam hoje, às 23h (no horário de Brasilia). A largada está prevista para a madrugada de domingo, às 3h.

PS: A previsão do tempo indica chance de chuva para o sábado, em Xangai, durante os treinos oficiais. Se isso ocorrer, todos estarão livres para largar com pneus novos. O problema, no entanto, também vale para os outros GPs da temporada.