Jolyon Palmer, 25, fez uma estreia apagada, mas não de todo desprovida de mérito pela Renault. Largou em Melbourne em 13º, à frente de seu companheiro de equipe, e chegou em 11º, sem marcar ponto.
Sua chegada à Fórmula 1, no entanto, após quatro temporadas na GP2, estabelece um recorde revelador: foram quatro filhos de ex-pilotos de F-1 que largaram na primeira prova de 2016, mais do que em qualquer outro ano.
Além de Jolyon, seu colega de Renault, Kevin Magnussen, Max Verstappen e o vencedor do GP, Nico Rosberg, são todos os segundos da linhagem a disputar uma prova pela categoria. Além deles, Carlos Sainz Jr, companheiro de Verstappen na Toro Rosso, carrega um nome respeitado no esporte: é filho de um campeão mundial de rali e um dos principais nomes do Dakar atualmente.
Ver filhos seguindo os passos dos pais nas pistas é relativamente novo na Fórmula 1, mas algo comum no automobilismo norte-americano, mais propenso à formação de clãs, como o dos Andretti (Mario, Michael, John, Jeff, Marco), dos Unser (Al, Bobby, Al Jr.) e dos John Paul (Sr. e Jr.) —na Indy, não raro pais e filhos largavam lado a lado na mesma corrida.
A Fórmula 1 já se acostumou há algum tempo com os pilotos de segunda geração. Damon Hill (filho de Graham, bicampeão) e Jacques Villeneuve (filho de Gilles, que dispensa apresentações) já foram companheiros de equipes e disputaram o título entre si, em 1996. Antes deles, David e Gary, filhos do tricampeão Jack Brabham chegaram à categoria, com resultados extremamente modestos. Christian Fittipaldi também repetiu o feito de seu pai, Wilson, em 1992, ao estrear pela Minardi, e Michael Andretti teve uma passagem-relâmpago, mal sucedida, infelizmente, como companheiro de Ayrton Senna na McLaren, em 1993.
Antes disso, ver filhos de pilotos correndo na F-1 era raridade. Nos anos 70, Hans Joachim Stuck, filho de um dos pilotos oficiais da Auto Union nos anos 30 e uma lenda da subida de montanha, chegou a conquistar dois pódios com a Brabham, mas foi uma exceção.
De dez anos para cá, o fenômeno se intensificou. Além de Nico Rosberg, que estreou em 2006, chegaram à categoria Kazuki Nakajima (filho de Satoru), Markus Winkelhock (filho de Manfred, estrela do Endurance nos anos 80) e, claro, o brasileiro Nelsinho Piquet. Além deles, também pode entrar na conta o “sobrinho” Bruno Senna.
Há uma diferença dessa geração para a a anterior, no entanto. Damon Hill e Jacques Villeneuve perderam o pai ainda jovens e não tiveram apoio familiar em suas carreiras. A maioria dos “filhos” no grid atual, por outro lado, não podem reclamar disso.
Jonathan Palmer, pai de Jolyon, foi comentarista após pendurar o capacete, e é presença constante no paddock desde então. Kevin Magnussen e Nico Rosberg frequentam o circo da F-1 desde criança, e Jos Verstappen viaja com Max para quase todas as corridas. Recuando um pouco, Nelsão chegou a montar uma equipe inteira de GP2 para Nelsinho Piquet alavancar sua carreira na Europa.
Que ninguém desconsidere o mérito, as milhares de horas de treino no simulador e na academia, as dietas rigorosas, as privações que esses caras sofreram desde jovens para chegar ao topo do esporte.
Entretanto, o próprio fato de tantos filhos de ex-pilotos estarem chegando lá, deixando para trás tantos outros jovens com o mesmo sonho e a mesma garra, já é suficiente para levantar algumas sobrancelhas: será que o esporte não se tornou elitista demais? Será que ser filho de um esportista muito rico e com contatos no meio se tornou tão importante quanto demonstrar talento? Será que as oportunidades para os outros sobrenomes têm se estreitado?
As respostas, quem sabe, podem estar com as próximas esperanças brasileiras, Pietro e Pedro, nas categorias de base. Não à toa, eles atendem pelos nomes Fittipaldi e Piquet.