Dois pilotos comemoraram o resultado do GP da Austrália, em Melbourne, como se fosse uma vitória. Nico Rosberg, da Mercedes, foi o vencedor de fato. Romain Grosjean, no entanto, nem sequer sabia em que posição havia alcançado a bandeira quadriculada, mas sabia que estava dentro da zona de pontuação, e isso bastava.
O franco-suíço chegou em sexto lugar, com equipe novata Haas. Foi um feito histórico: é a primeira vez que uma escuderia marca pontos na estreia desde 2002, quando Mika Salo chegou também na sexta posição com uma Toyota.
(A Brawn até venceu seu primeiro GP, em 2009, mas o time havia tão somente trocado de nome —corria como Honda até o ano anterior. O próprio site da F-1 não equipara o feito ao da Haas e da Toyota, mas ele não deixa de ser impressionante por si só, dada carroça que a Honda era em 2007 e 2008…)
Há de se notar, no entanto, que a Toyota havia passado boa parte de 2001 rodando milhares de quilômetros em testes com um protótipo. A Haas, por outro lado, chegou a cogitar uma estreia na F-1 em 2015, mas preferiu adiar os planos, e só apresentou seu carro em dezembro.
Gene Haas, o dono do empreendimento, fez fortuna com uma empresa de automação industrial. Não tem qualquer parentesco com o também americano Carl Haas, o veterano chefe de equipe da Cart e da Indy —que também tentou a sorte na F-1 três décadas antes, sem muito sucesso.
Gene Haas tem envolvimento direto com o automobilismo desde 2002, quando fundou a equipe Stewart-Haas na Nascar, com o piloto Tony Stewart (estreou no ano seguinte). Antes, o empresário patrocinava a Hendrick Motorsport, na mesma categoria.
Acontece que a diferença entre uma equipe da Nascar e uma da F-1 é mais ou menos a mesma entre andar de skate e de carro. A experiência em uma categoria não vale muita coisa na outra.
A Haas acabou por herdar (ou, melhor, comprar da massa falida) da extinta Marussia as instalações em Banbury, na Inglaterra, bem como dois funcionários-chave, Dave O’Neill e Rob Taylor.
O chassi, batizado de VF-16, foi desenvolvido em parceria com a Dallara. De resto, a maioria dos componentes mecânicos foram comprados da Ferrari: o motor, o sistema de direção, o volante, toda a parte instrumental do cockpit, o câmbio e todo o sistema de transmissão. O aerodinamicista-chefe, Ben Agathangelou, também veio de Maranello.
Todos respondem a Haas e ao italiano Guenther Steiner, o chefe de equipe, com breves passagens pela Jaguar e Red Bull no currículo, envolvido com o automobilismo dos EUA desde 2006.
Na Austrália, os pontos de Grosjean vieram não sem uma dose de sorte causada, veja só, pelo seu companheiro de equipe, Esteban Gutierrez, envolvido no acidente com Fernando Alonso que causou a interrupção da prova. Com a bandeira vermelha, Grosjean pôde trocar os pneus antes da relargada, sem a necessidade de um pit stop. De volta à pista, os compostos resistiram sem a necessidade de uma parada extra nos boxes.
O sexto lugar não é indicativo da competitividade da Haas, que deve disputar posições bem mais modestas ao longo da temporada. O próprio Grosjean reconheceu o fato, sem diminuir a conquista: “Nós não temos o melhor carro, não estamos no topo, mas fizemos o melhor que podíamos ter feito”.
Atualização: Conforme orientação do leitor Marcos Oliveira, o post foi reescrito para incluir a participação da Dallara na produção do chassi usado nesta temporada (obrigado, Marcos!)