O truque é não deixar a Mercedes fazer a primeira curva na frente

Por Daniel Médici
Vettel relega a a Mercedes de Nico Rosberg às sombras nas primeiras voltas do GP da Austrália (Paul Crock/AFP)
Vettel relega a a Mercedes de Nico Rosberg às sombras nas primeiras voltas do GP da Austrália (Paul Crock/AFP)

Das últimas quatro provas da F-1 em 2015, duas acabaram com Nico Rosberg em primeiro, Lewis Hamilton em segundo e Sebastian Vettel em terceiro. Neste GP da Austrália de 2016, o pódio foi exatamente o mesmo. A aparente ordem do resultado final, porém, não fez jus ao caos que preencheu as 57* voltas de corrida em Melbourne.

Pontuado por algumas rodadas, ultrapassagens e a pancada homérica de Fernando Alonso, que motivou uma bandeira vermelha e dividiu a corrida em duas, o GP teve seu resultado final definido por dois fatores principais: a largada e a nova regra de uso de pneus.

Apesar do monopólio da primeira fila, nenhum dos carros prateados chegou à primeira curva na liderança —a primazia coube à Ferrari de Vettel, que pulou melhor no apagar das luzes. Kimi Raikkonen também merece elogios pela inteligência ao se aproveitar da briga interna entre Rosberg e Hamilton e assumir a segunda posição. O inglês terminou a primeira volta em um distante sexto lugar após um toque com o companheiro de equipe.

A partir daí, as Mercedes foram foçadas a entrar em uma tática de recuperação, por meio da qual se deram relativamente bem, ajudadas pelo abandono de Raikkonen.

Além das posições embaralhadas, ficou claro que as equipes ainda estão se adaptando ao novo regulamento relativo ao uso dos pneus, que, entre outras diversas mudanças, permite o uso de até três compostos diferentes em uma mesma corrida.

Foi ao decidir trocar os pneus macios para médios, durante a interrupção do GP, que Nico Rosberg deu seu pulo do gato para sagrar-se vencedor. Ao mesmo tempo, Vettel optou por não trocar os supermacios com cinco voltas de uso, com os quais completou 22 voltas (ok, algumas delas em bandeira amarela), mas que o obrigaram a parar mais uma vez, custando-lhe uma ou duas posições.

De tudo isso resultou, nas voltas finais, uma divertida perseguição de Vettel a Hamilton, ambos com os calçados no limite do desgaste, errando pontos de freada, forçando o equipamento. É uma pena que cenas como essa tendam a se tornar paulatinamente mais raras conforme o campeonato se desenvolve (e os engenheiros criam melhores estratégias de paradas no box).

Até lá, o espectador agradece pelo espetáculo. Mesmo que o resultado final dê a impressão de que a distribuição de forças não mudou tanto assim.

*Oficialmente, o GP da Austrália teve 58 voltas, mas o abandono de Daniil Kvyat antes da largada causou uma nova volta de apresentação, que rouba um giro do percurso previsto.