O que a faltou à Fórmula 1 em emoção neste sábado, em Albert Park, sobrou em constrangimento. O novo sistema de classificação prometia deixar os treinos mais emocionantes, mas, em sua primeira aplicação prática, o que se viu foi a pista de Melboune às moscas e o grid definido muito antes da bandeira quadriculada.
Como se isso não fosse suficiente, a temporada de 2016 começa exatamente da mesma forma como a de 2015 terminou: com as Mercedes sem concorrência na primeira fila, as Ferrari isoladas em um distante segundo pelotão e um certo equilíbrio de forças só a partir do quinto lugar.
Na sexta-feira, manifestei otimismo neste espaço em relação às mudanças promovidas pela categoria. Não poderia estar mais enganado.
Aprovado a toque de caixa pelo Grupo Estratégico da F-1 (cuja missão é, ironicamente, tornar o esporte mais atrativo para os espectadores), o sistema de eliminação contínua se tornou uma rara unanimidade entre os pilotos, que não foram consultados: nenhum deles gostou das alterações.
Se há uma lição a ser tirada do episódio, é a de que o esporte não pode ser guiado pelos humores de burocratas de terno e gravata sentados em mesas de reunião —ele precisa aprender a ouvir seus protagonistas, aqueles que vestem o capacete e arriscam o pescoço a mais de 300 km/h.
Para um esporte tão associado à engenharia e à precisão, chega a ser incrível o número de vezes em que os dirigentes da F-1 tomam decisões com base no método da tentativa e erro.
Em 2005, por exemplo, a organização resolveu criar dois treinos oficiais e somar o tempo de duas voltas lançadas de cada competidor. Resultado: o público não entendeu nada, os carros permaneciam muito menos tempo na pista e nada disso pareceu resultar em mais ultrapassagens durante as corridas. O sistema durou exatos seis GPs e foi alterado no meio da temporada.
Hoje, pouca gente acredita que a nova fórmula sobreviva até a próxima etapa, no Bahrein.